Caio da Silva Prado Júnior (São Paulo, 11 de fevereiro de 1907 — 23 de novembro de 1990) foi um sociólogo, historiador, geógrafo, escritor, filósofo, político e editor brasileiro.
As suas obras inauguraram, no país, uma tradição historiográfica identificada com o marxismo, buscando uma explicação diferenciada da sociedade colonial brasileira.
Proveniente de uma família de políticos e da sociedade aristocrática paulista, vários parentes seus exerceram papel de destaque na vida político-econômica de São Paulo.
Formou-se em Direito pela Faculdade do Largo de São Francisco em 1928, onde mais tarde seria livre-docente de Economia Política.
Como intelectual teve importante atuação política ao longo das décadas de 1930 e 1940, tendo participado das articulações para a Revolução de 1930. Decepcionado com a inconsistência política e ideológica da Segunda República Brasileira, aproximou-se do marxismo e filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro, em 1931.
Publicou, em 1933, a sua primeira obra - Evolução Política do Brasil -, uma tentativa de interpretação da história política e social do país. Após uma viagem à União Soviética em 1933, à época no governo de Stálin, e a alguns países socialistas, alinhados à União Soviética, publicou URSS - um novo mundo (1934), edição apreendida pela censura do governo de Getúlio Vargas, que passaria a combater. Ingressou na Aliança Nacional Libertadora, a qual presidiu em São Paulo.
Em 1934, ano de implantação da Universidade de São Paulo (USP), juntamente com os professores Pierre Deffontaines, Luís Flores de Morais Rego e Rubens Borba de Morais, Caio Prado Júnior participou da fundação da Associação dos Geógrafos Brasileiros - AGB, primeira entidade científica de caráter nacional.
Em 1942 publicou o clássico Formação do Brasil Contemporâneo - Colônia, divisor de águas da historiografia brasileira. O livro deveria ter sido a primeira parte de uma coletânea sobre a evolução histórica brasileira, a partir do período colonial. Entretanto, os demais volumes jamais foram escritos. Neste livro, alcança superar uma prática até então usual na Historiografia brasileira, qual seja, a da anacronia, consistente em se analisarem os fatos passados sem perder de vista o seu desenlace presente. Caio Prado Júnior, por seu turno, é capaz de analisar os processos históricos a partir do mundo em que se desenvolveram, elaborando o mais completo quadro do Brasil Colônia até então traçado. Pautando a sua investigação em relatos coetâneos ao período do Brasil Colônia, pinta um retrato sem retoques de um plano geográfico de que se encontram não poucas marcas no Brasil de hoje. O livro, ao lado de Casa-Grande e Senzala, de Gilberto Freyre, e de Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda, formaram uma tríade de livros sobre o conhecimento da época sobre como funcionam as estruturas sociais do país. Entrementes, em diferenciação a seus pares, Prado Júnior tende a dar as costas a um certo subjetivismo e a um certo tom redentor de Freyre e Buarque de Holanda.
Em 1945 foi eleito deputado estadual, como terceiro suplente pelo Partido Comunista Brasileiro e, em 1948 como deputado da Assembleia Nacional Constituinte. Todavia, este último mandato lhe seria cassado em 1948, na sequência do cancelamento do registro do partido pelo Tribunal Superior Eleitoral. Na condição de membro da Assembleia Constituinte Paulista de 1947, foi responsável, junto com Mário Schenberg, pela inclusão do artigo 132 da constituição estadual: "O amparo à pesquisa científica será propiciado pelo Estado por intermédio de uma fundação organizada em moldes a serem estabelecidos por lei." Ao ser regulamentado em 1962, esse artigo levou à criação da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).
Dirigiu o vespertino A Plateia e, em 1943, juntamente com Arthur Neves e Monteiro Lobato, fundou a Editora Brasiliense, na qual lançou, posteriormente, a Revista Brasiliense, editada entre 1956 e 1964.
Na década de 1950, desenvolveu sua discussão sobre dialética, publicando dois livros: A Dialética do Conhecimento (1952) e Notas Introdutórias à Lógica Dialética (1959).
Em 1960, juntamente com outros intelectuais brasileiros, participa da criação da União Cultural Brasil-União Soviética, atual União Cultural pela Amizade dos Povos, sendo o seu primeiro presidente.
Em 1966 foi eleito o Intelectual do Ano, com a conquista do Prêmio Juca Pato, concedido pela União Brasileira de Escritores, devido à publicação, naquele ano, do polêmico A revolução brasileira, uma análise dos rumos do país após o golpe militar de 1964.[1] Este trabalho impulsionaria a reflexão autocrítica da esquerda brasileira em relação ao golpe.[5]
Sofreu novas perseguições durante o Regime Militar de 1964.[3] Foi expurgado, juntamente com outras 78 pessoas, do cargo de professor em dezembro de 1968.[5] Em 1967 havia concedido uma entrevista ao grêmio da Faculdade de Filosofia da USP e em março de 1941 a 2a Auditoria Militar de São Paulo abriu processo contra o historiador por causa de uma das respostas, acusando-o de incitação subversiva.[5] Em 25 de março de 1970 foi condenado à pena máxima de 6 anos e meio de detenção, depois de apelar ao STF conseguiu reduzir a pena a 21 meses.[5] Esteve preso no presídio Tiradentes e no 16° Batalhão Universitário da Força Pública, atrás da USP, onde dividiu a cela com um delegado preso por tráfico de drogas.[5] Quando havia cumprido quase toda a pena, foi absolvido pelo STF e libertado, após 525 dias na prisão com 64 anos de idade.
As principais obras de Prado Júnior:
1933: Evolução política do Brasil
1934: URSS - um novo mundo
1942: Formação do Brasil Contemporâneo
1945: História Econômica do Brasil
1952: Dialética do Conhecimento
1953: Evolução Política do Brasil e Outros Estudos
1954: Diretrizes para uma Política Econômica Brasileira
1957: Esboço de Fundamentos da Teoria Econômica
1959: Introdução à Lógica Dialética (Notas Introdutórias)
1962: O Mundo do Socialismo
1966: A Revolução Brasileira
1971: Estruturalismo de Lévi-Strauss - O Marxismo de Louis Althusser
1972: História e Desenvolvimento
1979: A Questão Agrária no Brasil
1980: O que é Liberdade
1981: O que é Filosofia
1983: A Cidade de São Paulo
A maior parte das obras do autor foi publicada pela Editora Brasiliense.
Fonte: Wikipedia