Tocar Música

JORGE TIBIRIÇÁ

15/11/1855 | 29/09/1928

Biografia

Jorge Tibiriçá Piratininga nasceu em Paris, França, em 15 de novembro de 1855, filho de João de Almeida Prado Tibiriçá Piratininga e de Pauline Eberlé. Seu pai, rico fazendeiro e notável paulista pertencente a tradicional família ituana, presidiu a famosa Convenção de Itu, que em abril de 1873 lançou as bases da organização do Partido Republicano Paulista (PRP). Foi governador de São Paulo e senador, ocupando lugar importante na história brasileira do final do século XIX e início do século XX.

Jorge Tibiriçá iniciou seus estudos em casa, com a mãe, e em 1867, aos 11 anos de idade, foi matriculado como aluno interno no Colégio Barth, alemão, localizado no bairro do Brás, na capital paulista. Em 1870, seu pai decidiu que deveria concluir seus estudos na Europa, e sua mãe, Pauline, o acompanhou na viagem. Ao chegarem à França, a situação política internacional estava inquietante, devido ao litígio entre o imperador francês Napoleão III e o chanceler Otto von Bismarck, chefe do governo da Prússia. Jorge Tibiriçá obteve da mãe autorização para ir de trem até a Alsácia, de onde deveria seguir para a Suíça a fim de providenciar sua matrícula em um colégio em Zurique. Com o agravamento da situação política, foi obrigado a permanecer confinado, como toda a população, na cidade francesa de Strasbourg, próxima da fronteira alemã. Em pouco tempo a cidade foi sitiada pelas tropas germânicas e bombardeada. Com apenas 14 anos de idade, Jorge foi testemunha dos horrores da guerra. Com a capitulação de Strasbourg, Jorge Tibiriçá, como brasileiro, conseguiu obter um passaporte para entrar na Suíça. No dia 19 de setembro de 1870, as tropas alemãs cercaram Paris, que capitulou em 19 de janeiro de 1871. Com o armistício, foi concedida autorização para que o jovem retornasse à capital francesa, mas uma verdadeira guerra civil ocorreu entre o governo e o operariado, resultando na Comuna de Paris. Jorge pôde afinal entrar em Paris e, com apenas 15 anos de idade, viveria o maior drama de sua vida: ao procurar pela mãe, constatou que ela fora levada para um hospital e lá havia falecido, vítima da falta de alimentos e do frio. A despeito de tais notícias, João Tibiriçá decidiu que o filho deveria continuar seus estudos na Europa. Obediente às determinações paternas, Jorge matriculou-se no Colégio Riffel, em Staffa, às margens do lago de Zurique, na Suíça. Na escola, que fornecia formação essencialmente humanística, estavam matriculados alunos de famílias abastadas, inclusive alguns brasileiros. Após concluir o secundário, Jorge Tibiriçá transferiu-se para a Alemanha com o objetivo de procurar as mais reputadas escolas de agricultura. Ingressou na escola agronômica de Hohenheim, cidade próxima de Stuttgart, considerada uma das melhores no gênero, e aí se formou agrônomo e recebeu a distinção de doutor. Em 1877 matriculou-se na Faculdade de Filosofia da Universidade de Zurique. Aperfeiçoando-se em química inorgânica e orgânica, alcançou em 1879 o título de doutor em filosofia. Afinal, depois de quase uma década ausente, Jorge Tibiriçá regressou ao Brasil. No ano seguinte casou-se com uma prima, Ana de Queirós Teles, descendente de família tradicional, e passou a se dedicar aos trabalhos agrícolas na fazenda Ressaca, situada no tronco-mestre da linha da Estrada de Ferro Mogiana, a meio caminho entre Campinas e Moji-Mirim. Nessa fazenda, onde residiu vários anos e onde alguns de seus filhos nasceram e foram criados, seria grande produtor de café de qualidade, e aplicaria os conhecimentos agronômicos adquiridos na Europa. Em dezembro de 1888, recebeu um telegrama da França comunicando o falecimento de seu pai, então em viagem àquele país. João Tibiriçá Piratininga deixou para seu único filho uma imensa fortuna, calculada na época em mais de 500 contos de réis, além de propriedades agrícolas nas quais plantara cana-de-açúcar, algodão, cereais, e finalmente café. Embora nunca tivesse dispensado o recurso ao braço escravo, Jorge Tibiriçá sempre fora dos mais entusiastas em preconizar as vantagens da imigração, a fim de substituir gradativamente a escravidão pelo serviço de homens livres. 

Como administrador de um grande patrimônio agrícola, e um dos maiores fazendeiros de café da província de São Paulo, cuidou de fixar na terra os trabalhadores locais e apoiou, como já fizera seu pai, a vinda de imigrantes para trabalhar nas plantações cafeeiras. Transformou-os em pequenos proprietários rurais, mas manteve-os trabalhando nas grandes fazendas, e assim pôde manter a produção e não ter grandes prejuízos após a promulgação da Lei Áurea em 13 de maio de 1888. 

Em 1889, como republicano e defensor dos ideais democráticos, assistiu com contentamento à proclamação da República em 15 de novembro. Com o novo regime, assumiu o governo de São Paulo uma junta composta por Prudente de Morais, Rangel Pestana e o tenente-coronel Joaquim de Sousa Mursa. A junta governou São Paulo de 16 de novembro até 14 de dezembro de 1889, quando o chefe do governo provisório da República, marechal Deodoro da Fonseca, resolveu nomear Prudente de Morais governador do estado. Em setembro de 1890, Prudente foi eleito senador ao Congresso Constituinte. Devendo deixar o governo paulista antes de tomar posse em 15 de novembro seguinte, e contando com a influência do líder republicano Francisco Glicério junto ao marechal Deodoro da Fonseca, indicou como sucessor Jorge Tibiriçá. O ministro da Fazenda Manuel Ferraz de Campos Sales também defendeu o nome de Tibiriçá, que foi assim nomeado governador de São Paulo. 

Após receber o governo de Prudente de Morais em 18 de outubro de 1890, Jorge Tibiriçá teve duas preocupações imediatas: a reforma da Estação Agronômica de Campinas, de grande importância econômica e política para São Paulo, e a preparação das eleições para a Assembleia Constituinte paulista.

Em 25 de fevereiro de 1891, Deodoro da Fonseca foi eleito indiretamente presidente da República, derrotando Prudente de Morais, também candidato. Ainda em fins de fevereiro, com o apoio do governador Jorge Tibiriçá, o PRP lançou uma lista de candidatos às eleições estaduais e municipais marcadas para 20 de março. Em 4 de março, porém, São Paulo foi surpreendido com a notícia da exoneração de Jorge Tibiriçá por decreto de Deodoro da Fonseca. A inesperada medida era a culminância das desavenças entre o marechal e a bancada paulista no Congresso, evidenciadas na disputa com Prudente de Morais. A inesperada mudança no governo de São Paulo se deveria também ao fato de Tibiriçá não ter apoiado explicitamente a eleição de Deodoro e não ter demonstrado contentamento diante de sua escolha para o cargo de chefe da nação.  O gesto de Deodoro provocou descontentamento nas fileiras republicanas, além de comentários e críticas na imprensa. Prudente de Morais passou um telegrama para Tibiriçá nos seguintes termos: “Parabéns pela vossa demissão. Caiu convosco o Partido Republicano Paulista. Acompanham-vos os aplausos de toda a população desinteressada”. 

Após passar o cargo de governador em 7 de março de 1891 ao sucessor Américo Brasiliense, também nomeado por Deodoro, Jorge Tibiriçá, acompanhado de um grande número de amigos e correligionários, dirigiu-se ao Clube Republicano, onde foi alvo de manifestação de desagravo. 

Américo Brasiliense continuou no governo, passando, após a promulgação da Constituição estadual de 1891, a ser designado não mais governador, mas presidente do estado. Assim também o seriam seus sucessores. 

Quando, em 3 de novembro seguinte, após longos desentendimentos, Deodoro dissolveu o Congresso Nacional, os próceres do PRP solidarizaram-se com a conspiração tramada no Rio de Janeiro para derrubar o marechal e restabelecer o Congresso dissolvido. Esse restabelecimento acabou ocorrendo em 23 de novembro, com a renúncia de Deodoro. Tomou posse então na presidência o vice-presidente da República, marechal Floriano Peixoto, que convidou Jorge Tibiriçá para ocupar um lugar no novo ministério. Tibiriçá, porém, recusou o convite.  Em São Paulo, sob a direção de uma junta revolucionária composta por Campos Sales, Bernardino de Campos e Júlio Mesquita, ocorreu um verdadeiro levante nas cidades do interior para forçar também a mudança no governo do estado. A resistência na capital provocou vários choques entre os insurgentes republicanos e a força policial que apoiava Américo Brasiliense. Incidentes vários, tumultos, correrias, tiroteios e ataques aos jornais da oposição marcaram a luta entre as duas correntes, até que, em 15 de dezembro, Brasiliense viu-se obrigado a entregar o governo ao major Sérgio Castelo Branco, inspetor das tropas policiais. Poucas horas depois, o militar passou o poder ao substituto legal, o vice-presidente José Alves de Cerqueira César. 

Durante sua administração de apenas nove meses, Cerqueira César sofreu uma ameaça de golpe e resolveu dissolver o Congresso Legislativo paulista, cujos integrantes em sua maioria apoiavam o antigo governo. Novas eleições foram marcadas, e Jorge Tibiriçá acabou aceitando a indicação do PRP para concorrer a uma cadeira de senador estadual. Foi eleito em 7 de março de 1892, e no dia seguinte foi escolhido vice-presidente do Senado paulista. Logo após ter sido empossado, em 7 de abril, foi designado membro da Comissão de Fazenda e Contas do Senado Estadual. 

Em 23 de agosto de 1892 tomou posse o novo presidente eleito do estado de São Paulo, Bernardino de Campos. Convidado por Bernardino para a Secretaria de Agricultura, Comércio e Obras Públicas, Jorge Tibiriçá assumiu o cargo em 12 de dezembro de 1892, tendo antes renunciado ao mandato de senador estadual. Sua aceitação deveu-se à amizade com Bernardino, mas o convite foi feito principalmente por sua competência técnica como agrônomo e por ser conhecido como dedicado fazendeiro, sendo sua fazenda Ressaca considerada por todos como modelo. Vários órgãos foram criados na secretaria chefiada por Tibiriçá, como a Superintendência de Obras Públicas, a Inspetoria de Terras, Colonização e Imigração, a Comissão Geográfica e Geológica e a Comissão de Saneamento, composta de engenheiros encarregados de serviços sanitários. O governo despendeu nessa área uma grande parte de seu orçamento. O próprio presidente do estado Bernardino de Campos mencionou em seu relatório apresentado ao Congresso Legislativo estadual a presteza com que foram efetuadas as obras, custosas e fundamentais para o abastecimento de água da capital paulista. Com elas, o fornecimento de água elevou-se de 3,5 milhões de litros diários para 31,2 milhões.  Outra preocupação da secretaria foi o saneamento da cidade de Santos, porta de entrada dos milhares de imigrantes. Foi executado o plano elaborado pelo engenheiro sanitarista americano Estevan Antonio Fuertes

Como engenheiro agronômico, Tibiriçá, procurou estimular a formação de técnicos aptos a orientar o desenvolvimento agroindustrial. Os cursos de agronomia da Escola Politécnica, da Escola Prática de Piracicaba e do Instituto Agronômico de Campinas iriam se tornar grandes centros de observações e experiências necessárias ao aperfeiçoamento agrícola. 

Durante a Revolução Federalista e a Revolta da Armada, em 1893, Tibiriçá prestou inteiro apoio à ação de Bernardino de Campos, que apoiava o marechal Floriano. Permaneceu na Secretaria de Agricultura até 27 de março de 1895 – já com Prudente de Morais na presidência da República (1894-1898) –, quando foi substituído por Teodoro de Carvalho. Três dias depois foi novamente conduzido ao Senado Estadual, na vaga de Paulo de Sousa Queirós, que havia sido eleito deputado federal. Em 31 de dezembro de 1900 foi reeleito para o Senado paulista. Ao longo desse período, encerrou-se o mandato de Bernardino de Campos, e governaram o estado de São Paulo Campos Sales (1896-1897), Peixoto Gomide (1897-1898), Fernando Prestes (1898-1900) e Rodrigues Alves (1900-1902). Desde 1896 o preço do café entrara em queda, em decorrência do excesso de produção proveniente de novos cafezais. Em 1901, com as restrições de crédito e a implacável política econômica do presidente da república Campos Sales (1898-1902) e de seu ministro da Fazenda Joaquim Murtinho, a crise se abateu sobre os fazendeiros, principalmente os paulistas, e atingiu a posição de Tibiriçá. O então senador recorreu aos bancos e comissários e hipotecou sua fazenda Ressaca, uma vez que a venda do produto não dava para cobrir as despesas da propriedade, consideravelmente aumentadas pelas majorações de salário dos colonos, que faziam constantes exigências e facilmente mudavam de local de trabalho. 

Em 1902, Bernardino de Campos foi eleito pela segunda vez presidente de São Paulo, completando o mandato de Rodrigues Alves, que renunciou no início do ano para candidatar-se à presidência da República (1902-1906). Aproximando-se a sucessão estadual, os líderes mais destacados do PRP penderam para o nome de Jorge Tibiriçá. Jorge Tibiriçá foi eleito em 15 de fevereiro de 1904 para o quadriênio de 1904 a 1908, tendo como companheiro de chapa João Batista de Melo e Oliveira. 

Desde os primeiros dias do seu governo, Jorge Tibiriçá viu-se envolvido nos problemas decorrentes da crise do café. A oposição entre os programas e doutrinas econômicas de Tibiriçá e do presidente Rodrigues Alves logo afastou os dois governantes. Rodrigues Alves seguia o mesmo plano financeiro de seu antecessor Campos Sales, mostrando-se francamente a favor da valorização do meio circulante. Considerou assim abusiva e pouco amistosa para a autoridade presidencial a aliança dos três maiores estados cafeicultores – São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro – promovida por Tibiriçá com o objetivo de reclamar uma reforma do padrão monetário, contrariando a política de câmbio alto do ministro da Fazenda, Leopoldo Bulhões. Continuava em vigor a lei que estabelecera os impostos sobre as novas plantações, e o presidente recomendava o crédito agrícola à base de warrants. Tibiriçá resolveu agir, e comandou decisivamente os maiores estados produtores de café na defesa do produto. Contou para isso com a colaboração do senador Francisco Glicério e do deputado federal Cândido Rodrigues, representantes paulistas, que mantiveram contato com delegados mineiros e fluminenses, e conferenciaram com o presidente Rodrigues Alves. Os entendimentos com os representantes de Minas se fizeram através de Carlos Peixoto, e com os representantes do Estado do Rio, através de Barros Franco Júnior e de Carlos Resende. A correspondência trocada pelos líderes, de caráter mais reservado, expressava as imensas dificuldades encontradas para unir os estados cafeeiros e salvar a lavoura do naufrágio. Durante as conversações, Tibiriçá escreveu: “A batalha vai ser terrível, quem não for por nós é contra nós”. 

A forte queda nos preços internacionais do café em 1905 resultou em uma verdadeira rebelião. Assim, em 26 de fevereiro 1906, com o apoio de seu secretário da Fazenda, Jorge Tibiriçá encabeçou uma reunião na cidade paulista de Taubaté com os presidentes Francisco Sales, de Minas Gerais, e Nilo Peçanha, do Rio de Janeiro, firmando um acordo de proteção ao café que ficou conhecido como Convênio de Taubaté. 

Além da questão do café, Jorge Tibiriçá teve outras preocupações no governo de São Paulo. Reconhecendo a necessidade de uma reforma na Constituição estadual, era a favor de uma mudança do sistema eleitoral para que fosse respeitado o sufrágio popular. Em relação à polícia de carreira, a seu ver impunha-se igualmente uma modificação, “porquanto jamais poderia dar resultado satisfatório o desempenho dos cargos policiais por autoridades locais sempre com interesses políticos”. O projeto longamente acalentado de contratar oficiais estrangeiros para imprimir à Força Pública de São Paulo pôde enfim ser realizado, com a vinda de uma missão francesa, composta de oficiais graduados, que durante muitos anos foi responsável pela formação do contingente da milícia paulista. Ainda recomendou que fossem instituídos os termos judiciários e que as comarcas fossem classificadas por entrâncias, para que fossem estimulados aqueles interessados em ingressar na vida judiciária. 

Após transmitir o governo em 1º de maio de 1908, Jorge Tibiriçá foi novamente eleito senador estadual em 7 de agosto, na vaga de Fernando Prestes de Albuquerque, que havia deixado o mandato para assumir o cargo de vice-presidente do estado. 

No pleito de 2 de fevereiro de 1916, Tibiriçá foi novamente eleito senador estadual. Voltou à presidência do Senado e assumiu também a presidência do PRP, devido à morte de Francisco Glicério, mantendo-se nos dois postos até 1924. Renunciou então o mandato de senador para assumir, por nomeação do presidente de São Paulo Carlos de Campos, o cargo de ministro do Tribunal de Contas do Estado (TCE) de São Paulo, instituído pela reforma da Constituição estadual de 1921. Na sessão inaugural de instalação da corte, realizada no mesmo dia, 6 de maio, em que tomaram posse os ministros, foi escolhido por aclamação presidente do TCE. Durante a sua presidência, protestou contra uma reforma, derivada de lei aprovada em 1926, pela qual o Poder Executivo podia determinar a aceitação das despesas impugnadas, método cômodo para anular as decisões do tribunal.   

Faleceu em São Paulo em 29 de setembro de 1928, no exercício do cargo de presidente do TCE. 

Fonte: Fundação Getúlio Vargas.

https://cpdoc.fgv.br/sites/default/files/verbetes/primeira-republica/TIBIRI%C3%87%C3%81,%20Jorge.pdf

Galeria de Memórias

Geral
Geral
Geral
Geral
Geral
Geral
Geral
Geral
Geral

Localização do Jazigo

Rua 20 - Terreno 20
Cemitério da Consolação
Rua da Consolação, 1660. Consolação - São Paulo/SP CEP: 01302-001
Endereço:
Rua da Consolação, 1660. Consolação - São Paulo/SP CEP: 01302-001
CONTATO